quarta-feira, 31 de março de 2010

O dia em que a Crente Gostosa caiu na igreja

No momento em que sentou, sentiu-se tensa. Não sabia o que estava fazendo ali, isso era um asurdo perante a lei de Deus. Aos poucos ela recebia sua consciência cristã de volta. Apesar de tudo, não poderia simplesmente sair dali. Já entrara e agora deveria ir até o fim, mesmo que isso implicasse problemas à sua eterna busca espiritual. Pensando nisso, decidiu ser direta. Pigarreou, tentou dar o maior tom de segurança que conseguiu à sua voz e disse: - Cigana, preciso da sua ajuda! Preciso que amarre um homem. Seu nome é Crente Gostoso, e eis aqui a foto do mesmo. A cigana de cabeça baixa, levantou somente um olho para a direção da garota e a fitou por alguns instantes. Por fim, disse com um certo tom de autoridade na voz: - Vou precisar de algumas coisas além do dinheiro. Pegue um papel e anote cada item que preciso. Quando você voltar esteja com esses elementos em mãos. Virou-se de lado e agarrou uma bolsa que estava numa cadeira de couro branco e tirou uma caneta de lá, agarrou qualquer verso de nota fiscal antiga e anotou atentamente tudo aquilo que a cigana falava. Em letras tremidas era possível ler-se: Uma cueca usada de seu amado, Gotas de sua própria menstruação (caso quisesse ter filhos com esse homem), uma mecha de seu próprio cabelo e outra de seu amado, e por fim uma rosca de coco da padaria da Zefa. A Crente empolgara-se com tudo isso, se sentindo em um filme sobre bruxaria. Ao mesmo tempo lembrou de sua religião e de seu Deus, que a puniria. Mas o que poderia ser mais importante do que o seu Crente Gostoso? Combinou todos os detalhes com a Cigana, sobre a próxima consulta. Entregou-lhe parte do pagamento e saiu rumo ao culto. Sem um pingo de culpa (ainda, olhou seu reflexo através de uma vitrine e gostou do que viu. Se sentia bonita nesse momento e pela primeira vez em anos, ela iria chegar atrasada em algum culto. Se sentiu a fodona por desrespeitar regras. A Crente estava se tornando arrogante. Isso era um mau presságio.

Ao chegar no culto, o pastor fazia uma forte oração. A igreja quase balançava, literalmente falando. Mulheres chorando, homens falando em línguas, senhoras caidas no chão, tamanha a presença de Deus naquele lugar. Quase era possível ver anjos rodando por ali. A Crente recuou alguns instantes, antes de se sentar em seu lugar habitual. Sentiu um tremor interno involuntário. Nunca sentira aquilo antes. Quando se deu conta, sentiu seu rosto torcer-se. Como se alguém pegasse e beliscasse o centro de sua face. Olhou para frente e reparou que alguns irmãos corriam em sua direção, uns seis ou sete. Ouviu a oração mais alto e aterrorizante. Doía. Queimava. Como se uma pessoa com unhas grandes, as passasse em seus órgãos internos. Sentiu alguém colocar as mãos sobre a sua testa. O que se seguiu foi um verdadeiro horror show. A crente arrancara toda a sua roupa e gritava, urrava e xingava todo mundo que estava naquele local. A igreja inteira estendia as mãos para a Crente. Ela estava no chão, a essa altura. Xingava palavrões horríveis e inimagináveis. Chamou a mulher que canatava na igreja de Rampeira. Ao se levantar, ela tratou de correr até o palco, empurrando o pastor para o lado. Estava nua e começou a sacudir os seios, com toda a força que conseguiu. Fez uma dança sensual no palco da igreja evangélica. Do outro lado da igreja, o Crente Gostoso orava fervorosamente. Ela estava sob possessão e precisava urgente de alguma intervenção, antes que a força dos demônios destruíssem o corpo dela. Os pastores, obreiros e membros da igreja não estavam sendo suficientes para conter a obra dos demônios. Decidiram trancá-la na saleta que servia de escola dominical infantil, que estava vazia no momento. Jogaram-na lá dentro. A igreja estava destruída. Membros choravam e não acreditavam naquilo que seus olhos viram. A Crente estava presa numa saleta de igreja sob influência de possessão demoníaca. Justo a Crente. Sempre tão eficiente e boa pessoa, disposta a ajudar todos os irmãos. Alguma coisa errada tinha.

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