segunda-feira, 5 de abril de 2010

O dia que a crente sofreu à noite

Ela acordou 24 horas depois, estava deitada completamente despida - tanto de roupas como de dignidade - em sua cama branca de ferro. Alguma coisa latejava em sua cabeça, talvez fosse a paulada que tomou na igreja para que desmaiasse e tivesse seu demônio exorcizado. Levantou-se, enrolou-se em seu hobby de veludo marrom (ela adorava vestimentas de veludo marrom), colocou seu hino de louvor preferido para tocar no rádio e clamou pela misericórdia de sua alma. E chorou. Chorou por pena de si, por vergonha de seus atos libidinosos na igreja, por seu crente gostoso ter visto seu estado pecaminoso. Chorou lágrimas de humilhação.
Sentiu um vazio enorme. Um vazio existencial que só poderia ser preenchido por uma coisa: COMIDA.
Foi, em meio à lágrimas sofridas, até a cozinha. Abriu a geladeira e nada alí havia além de uma singela e humilde panela cheia de couve refogada gelada.
Pegou a panela, pegou um garfo, sentou-se no chão junto à pia, encolhida em sua misericórdia, e comeu a couve refogada gelada, tão gelada como sua alma. Entre lágrimas de humilhação e vergonha e garfadas de couve, adormeceu com um único fiapo do vegetal escorregando perante seus lábios que há poucas horas proferia injúrias e ofensas.

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