terça-feira, 6 de abril de 2010

Quando a crente foi se purificar nas águas do litoral - DIA 1

Acordou no dia seguinte decidida a lavar suas lágrimas nas águas salgadas do oceano Atlântico. Pegou sua mala roxa com uma baleia estampada, totalmente suja de reboco da reforma do seu quartinho, colocou dentro uma saia marrom, uma preta e uma jeans, todas até o pé sendo as duas primeiras de veludo, sua blusinha cavada nas costas, uma regata com estampa camuflada escrito "exército de Jesus" e uma branca com detalhes em crochê e um golfinho estampado. Pegou seu maiô preto, um protetor solar (fé em Deus é necessário, mas é bom nunca dar mole para o câncer), vestiu sua sandalinha rasteira, pegou o dinheiro guardado debaixo do colchão Castor e foi para a rodoviária. Comprou uma passagem da Viação Litorânea com destino à São Sebastião e foi decidida comer alguma coisa na deliciosa e super higiênica praça de alimentação da rodoviária.

Dormiu o caminho inteiro da viagem, cerca de 4 horas. Desceu no meio do caminho e se embocou numa vielinha onde ela havia visto os dizeres "POUSADA CRISTÃ DEUS É PAI - AMBIENTE FAMILIAR" e se hospedou por duas noites. Seria o suficiente.

No dia seguinte, acordou cedo, vestiu seu maiô e foi curtir a calmaria da praia. Sentiu-se envolvida pela paz marítima e decidiu entrar no mar. Como uma deusa, mergulhou no oceano. O mar gelado parecia esfriar suas idéias. De repente, sentiu uma necessidade absurda e incontrolável de fazer um desejo, fosse pra Iemanjá, pra Jeová ou para a pequena Sereia. Emergiu, respirou fundo, submergiu e fez seu pedido: "que as coisas fossem boas daquele ponto em diante". Com um sentimento de missão cumprida, emergiu novamente e tentou sair do mar. Eu disse tentou. Quando estava na beira, caminhando altiva e poderosa, absoluta nas areias quentes, uma onda forte a acertou nos joelhos e a fez cair no chão como uma jaca. Rolando como uma salsicha, a crente foi arrastada cerca de 5 metros para frente e logo em seguida 5 metros para dentro do mar. Nadando contra a força da natureza, mal consegui se por em pé e outra onda a atingiu nas costas. Foi arrastada para a orla novamente e por misericórdia divina, conseguiu se arrastar para longe do mar revolto.

Com um ar de derrota, água nos ouvidos, as costas em brasa pelo ralar na areia, voltou para a pousada de ambiente familiar e se atirou na cama. Não se daria por vencida, ainda brilharia no litoral.

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