quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A vaidade da Crente

Era uma terça feira calorenta. A Crente se arrumava para ir á faculdade. Marcava 17h23 no seu reloginho de pulso com pulseira de smile metalizado. Ainda tinha tempo, e ela estava se sentindo bonita naquele dia. Olhou seu reflexo no espelho, jogou as madeixas que cobriam o seu rosto para trás e viu uma mulher diferente. Uma mulher (reprimiu esse pensamento) sensual. Um calor apoderou-se sobre seu corpo. Ela estava excitada, mas ela sabia que isso era contra as doutrinas de sua igreja. Sentiu vergonha de si mesma nesse momento e rapidamente murmurou uma oração à Deus. Pediu proteção da libertinagem deste mundo, declarou em alta voz que não gostaria de ser como Jezabel - A MULHER MUNDANA. Ela queria mesmo ser como NOEMI, mulher ungida. Afastou certos pensamentos da cabeça e se pôs a pentear seus longos cabelos, que caíam lhe sobre as costas. Ainda estava meio molhado, então resolveu pegar seu secador da Britania na gaveta do banheiro. Ali jogado, ela viu um batom, Um batom da Elke, com a embalagem verde. Se sentiu tentada á pintar a sua face. Mas lembrou-se que a modificação corporal não era bem vista aos olhos de sua fé. Mas o batom estava ali, olhando pra ela. Pedindo para tocar seus lábios, assim como um amante que clama pela virgem. Ela repensou e deicidiu passar apenas no lábio superior, apenas para dar um ar de "saúde". E assim fez, porém ela não gostou do resultado e se sentiu tentada à passar TAMBÉM no lábio superior. Sabia que Deus estava lhe olhando neste momento, sentiu vergonha. Mas não tinha vontade de voltar atrás. Por alguns instantes ela se sentiu uma "menina do mundo". Nada diferenciava ela da vagabunda filha do seu Zé. Aquele batom a corrompera. Luxúria em tons de vermelho paixão. Ela chorou. Sentou sobre o vaso sanitário com roupinha de crochê e chorou. Lágrimas de vergonha e humilhação cobriam todo o seu rosto. Se sentiu iludida, se sentiu uma pecadora com aqueles lábios vermelhos. Vermelho era a cor da paixão. Desenganada da vida, saiu do banheiro e deitou na sua cama de ferro branco do conjunto Bartira Casas Bahia, abraçou seu coração de pelúcia com os dizeres "I Love You" e se encolheu. Se resumiu à misericórdia de Deus. Pediu perdão pelo pecado que cometera. Acima de sua cabeça, pregado nas paredes do quarto, tinha posteres da Cassiane, Noemi Nonato e Aline Barros. Essas sim, eram verdadeiras servas de Deus. Essas sim, jamais pintariam seus lábios com a cor da luxúria. Se sentiu ainda mais envergonhada ao pensar nisso e chorou ainda mais. Chorava calada. Apenas lágrimas grossas e quentes escorriam de seus olhos. Até que por fim dormiu. Dormiu sob o silêncio de seu sofrimento e da misericórdia de Deus.

Não fora á faculdade.